domingo, 16 de novembro de 2008

Urzeit


Chronos devorando seus filhos - Francisco Jose de Goya y Lucientes

do tempo I

 Oh tempo! suspende teu vôo,  e vós, horas propícias!
 suspendeis vosso curso.

 Alphonse de Lamartine - escritor, poeta e político francês (1790-1869)
 foto da villégiature do poeta no lago de Bourget
 tradução: Marcelo Diorio

do tempo II

o nostálgico diz ser a memória, o moralista o caráter, o filósofo a sabedoria; eu afirmo ser o gosto a única coisa que não podem me subtrair.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Notas perfumadas


Não tenho conseguido deixar de ler as críticas semanais de Chandler Burr sobre perfumes. O colunista do The New York Times conhece como ninguém a história das fragrâncias e faz associações muito originais, algo Proustianas. Para o novo perfume masculino da Prada,Infusion d'Homme o poema sinfônico Pavane pour Une Infante Défunte de Ravel; na crítica ao Flower by Kenzo Mr. Burr exalta as qualidades de um perfumista que evita o jasmim "acabei de fazer sexo com um policial italiano" e no Rush da Gucci evoca um móbile de Calder. Podem parecer ingênuas as associações entre perfume e obras de arte, mas nenhum bon-vivant negaria a capacidade no mínimo reconfortante de um e de outro.

Léger

é um sopro de vida dar uma flanada pelos sites de alta-moda(a despeito do flash tornar cada look uma tortura, tanto tempo se perde para ver um modelo e não poder salvá-lo). Que haja sur-mesure Lanvin na época do Ipod, que a maison Chanel brinque com modelos barrocos em resina e a Dior Joaillerie misture pedras e esmalte parece-me um anacronismo mastodôntico inversamente proporcional às ofertas de grande cultura. A porção proud comemora a vinda de Cindy Lauper, Kyllie Minogue e Madonna; os cadernos de cultura debruçam-se sobre a bienal e seu andar vazio; os festivais de cinema tornam aquilo que deveria ser uma sessão descompromissada num calvário de filas, auto-crítica à pipoca e histeria sobre o diretor fulano de tal, ou o medo do filme que você perdeu não entrar em cartaz. Para mim - e não ouso deixar o meu lugar conforável diante da tela para procurar o texto corroborador de Nietzsche sobre o assunto - essa orgia de acontecimentos não passa de uma evidência do quão anódinos são os nossos interesses, antes por inapetência ou ignorância que por teimosia. O pior, e não posso deixar de dizê-lo num blog sobre o Dandismo, é tratar de temas ligeiros como se eles merecessem - e nada merece - o status de seriedade.